sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Três Pontos

            
            -Ta desanimada? Já sei, cansada! Dormiu pouco né?
            -Não, não... Eu tava lendo. Agora to... preocupada... com a história
            -Ah ta, tudo bem eu vou indo.
            -É...

            Esse “É...” eu falei muito mais pra mim do que pra ela. Ela já não estava mais lá. Meu excesso de reticências começava a me irritar. Até no texto. A datilografia delas tira a seriedade da imagem das palavras sobre o papel. São três pontos, um exagero de final que ironicamente servem pra dizer que o que eu dizia não acabava ali. Mas tinha que acabar, porque tava tudo bem, porque ela já ia indo.
            Mas mais do que a imagem ou a presença das reticências na fala cansada, o que me irritava em cada expressão minha, era o efeito que elas causavam nas pessoas: um certo constrangimento. Sabiam que eu tinha mais o que dizer. Sabiam que não queriam me ouvir. Não as culpo. Eu mesma já disse que ia indo, diante de assuntos tão mais preocupantes. Todos sabíamos que eu e tudo ficaria bem, mesmo que sem ânimo, mesmo que pagando pela insônia da noite anterior, mesmo que preocupada com a história que eu lia. E todos iam indo. E eu ficava. Desanimada, cansada, com sono e preocupada. E nem tão preocupada com a história, mas frustrada por saber que eu jamais escreveria algo capaz de preocupar alguém tanto quanto eu estava agora; frustrada por só abordar assuntos banais, como minha preocupação com o enredo de um livro que só eu lia e meu excesso de reticências e uma despedida fria...

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Quilômetros Passados


Se todos os quilômetros do mundo
fossem juntos medir o futuro
Trabalhariam a eternidade ao quadrado
e quando terminassem a medição
se partiriam em milímetros desiludidos
Pois a medida que acreditariam ter obtido
já seria a do passado