-Ta
desanimada? Já sei, cansada! Dormiu pouco né?
-Não, não... Eu tava lendo. Agora to... preocupada... com a história
-Ah ta,
tudo bem eu vou indo.
-É...
Esse “É...”
eu falei muito mais pra mim do que pra ela. Ela já não estava mais lá. Meu
excesso de reticências começava a me irritar. Até no texto. A datilografia
delas tira a seriedade da imagem das palavras sobre o papel. São três pontos,
um exagero de final que ironicamente servem pra dizer que o que eu dizia não
acabava ali. Mas tinha que acabar, porque tava tudo bem, porque ela já ia indo.
Mas
mais do que a imagem ou a presença das reticências na fala cansada, o que
me irritava em cada expressão minha, era o efeito que elas causavam nas
pessoas: um certo constrangimento. Sabiam que eu tinha mais o que dizer. Sabiam
que não queriam me ouvir. Não as culpo. Eu mesma já disse que ia indo, diante
de assuntos tão mais preocupantes. Todos sabíamos que eu e tudo ficaria bem,
mesmo que sem ânimo, mesmo que pagando pela insônia da noite anterior, mesmo
que preocupada com a história que eu lia. E todos iam indo. E eu ficava.
Desanimada, cansada, com sono e preocupada. E nem tão preocupada com a história,
mas frustrada por saber que eu jamais escreveria algo capaz de preocupar alguém
tanto quanto eu estava agora; frustrada por só abordar assuntos banais, como
minha preocupação com o enredo de um livro que só eu lia e meu excesso de
reticências e uma despedida fria...