quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Ida e Volta

Cada vez que Cecília pegava o caminho de sempre, dava um jeito de lançar um novo olhar sobre ele.

Todos os dias, doze estações, uma baldeação.

Conseguia sempre identificar algo novo.

Falando sobre uma cidade com onze milhões e meio de habitantes, parece facil encontrar novidades, afinal, são pessoas, certo?

Errado.

Às vezes Cecília arregalava os olhos ao perceber o quão iguais todos eram capazes de parecer.

Uma massa anonima seguindo-a ao longo dos dias.

Incontaveis desconhecidos que liam os mesmos livros, vestiam as mesmas roupas, tocavam nos mesmos assuntos, cochilavam nas janelas com a mesma exaustão e desviavam os mesmos olhares quando se percebiam observados.

Cecília colecionava qualquer coisa que pudesse destoar da paisagem iluminada pela luz fria dos vagões lotados.