quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Repouso Corrido


Corri pra pegar o ônibus. Tudo que estava no bolso da jaqueta caiu no chão, celular, chaves, fones, moedas, muitas moedas. A porta estava aberta, o motorista impaciente me olhava por cima. Meu primeiro impulso foi deixar tudo no asfalto correr até a porta. Já estava tarde, sabe-se lá quanto demoraria pro próximo passar. Caí em mim, não fazia sentido deixar as coisas ali. Voltei pra tatear o chão atrapalhada, recolhendo tudo. Achei que o motorista não fosse esperar. Esperou mas não respondeu o meu “boa noite, obrigada”.

Sentei no ultimo banco, o ônibus estava quase vazio e, caramba! Fazia tempo que eu não descansava. De repente, descansar se transformou nisso, sentar num banco de ônibus, nada pra ouvir, nada pra ler, ninguém pra conversar, nenhuma questão para desenvolver, ou problema pra solucionar. Apenas uma paisagem feita de penumbra, letreiros e luzes amareladas. Absorvia-a tentando pensar menos. A cidade passava rápido por mim e fazia ventar no meu rosto.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Presenteando

Não vai dar tempo de nada
Mas no tempo que der
Que ao menos a gente se dê

Não vai dar tempo de tudo
Mas no tempo que der
Que a gente se dê ao máximo

Não vai dar tempo de muito
Mas no tempo que der
Que a gente se dê muito bem

Temos mesmo pouco tempo
E no tempo que já não der
Nos presenteemos com a lembrança
dos bons presentes que nos demos

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Trecho de Tarde


As palavras vão mais rápido do que a ponta da lapiseira. Por isso não escrevo bem. Também porque  a lembrança empaca no meio do pensamento. Sei o que daria um bom texto, crônica ou capítulo mas não lembro. Então fica registrado um trecho, uma frase, uma frustração. Procrastino a hora de tomar notas. Sempre digo que as ideias voltam e que eu não vou esquece-las. Acontece que a minha memória é débil. Paradóxo, não lembro de nenhuma ideia que tenha voltado.
                                                                              -♦-

Lembrei de quando eu provei pra ela que passar hidratante no rosto dava um gosto estranho na boca. Ela gostava de passar, eu que ficava com o gosto do avesso. Mesmo assim nunca hesitei em beijá-la, tinha uma sede crônica por sua pele, com covinhas, olheiras e hidratante.
A gente tava lá em casa. Eu já tinha comentado que o que ela passava deixava uma sensação estranha. Foi um cometário, quase uma reclamação; não adiantava, se ela não era desatenta era indomável. Levantou e foi passar aquilo na cara de novo.
Eu entrei no banheiro, a abracei, vi como era bonito a gente junto, nossos rostos no espelho, nossas ideias na vida. Ela disse que tinha creme sobrando, sem prestar muita atenção no que fazia e rindo, passou a mão na minha bochecha.
Ah não meu! – protestei. Ela riu mais ainda.
De costas pro espelho me ajudou a espalhar o resto do creme em mim. Carinho e diversão sempre vinham juntos. Voltando pro sofá. Eu já queria lavar o rosto. Esse negócio é gorduroso, meus poros estão sufocando! Quero água, sabão e toalha limpa! Mas até o desespero da minha pele coberta de creme ela sabia acalmar. Me beijou sem parar de sorrir, primeiro a boca, então o queixo, depois a bochecha. Fez uma careta.
– Que gosto bizarro...
– Incomoda né? – respondi
– Sim, um pouco.
Acho que depois disso ela parou de passar aquilo ou mudou de marca. A verdade é que eu não lembro com certeza. Essa é mais uma cena-fragmento que vem de lugar nenhum e não tem pra onde ir, vaga.