sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Por precaução

Quinta feira chuvosa, dez da noite, Zona Leste de São Paulo, com vontade de comer pizza eu procurava uma boa padaria aberta que servia no balcão...

Desci uns 6 quarteirões andando em cima de calçadas muito esburacadas, debaixo de uma chuva relativamente forte, armada apenas com um guarda-chuva quebrado. Nessa hora eu já nem ligava mais para pizza do balcão da padaria, nem me importava se eu estava com as calças e com minhas meias novas encharcadas, tudo que eu queria era manter minha dignidade e (se possível) minha vida intactas. Pra tirar minha atenção do alto risco de assaltos, estupros e sequestros, desci a rua bolando argumentos broxantes para recitar caso fosse abordada por algum estuprador.
Eram mais ou menos assim: “senhor estuprador, me ouça, eu sei que o senhor está armado e pode atirar em mim se eu não cooperar com esse seu ato grosseiro e violento, mas eu quero dizer que não sucumbirei a sua força bruta e se fizer questão de usufruir do meu corpo jovem e sadio vai ter que me assassinar primeiro. E se você quiser mesmo atirar em mim, espero que esteja ciente de que estará correndo o risco de ser preso depois de identificado como dono da arma que disparou a bala que encontrarão na minha nuca. Sem contar que você não terá como relacionar-se sexualmente comigo já morta e ensanguentada; não do modo com se relacionaria caso me conhecesse em outra circunstância e me conquistasse com um pouco de romantismo e charme, talvez. Sugiro então, que desista de cometer seu crime volte para sua casa para refletir um pouco, tenho certeza de que ainda tem um futuro bonito pela frente, onde alguma mulher, mesmo que não te ame, vai um dia aceitar fazer sexo consensual com você.”
Nessa hora eu enxugaria as lágrimas do sujeito envergonhado e arrependido, dava pra ele uns trocados pro busão e ainda o aconcelharia a se matricular como suplente num colégio público.
É muita sorte para um garota ter um discurso desse na ponta da língua durante uma tentativa de estupro. Mais sorte ainda é não precisar usa-lo, como eu não precisei, pois, depois de quase 40 minutos de caminhada, na chuva e no escuro, cheguei a tal padaria que procurava, segura, sã, salva, encharcada e morrendo de frio.

O resultado dessa experiência: um pedaço de pizza de palmito, outro de escarola (com pedaços de bacon que ficaram no prato) , três conversas fiadas com desconhecidos maneiros, um monte de roupas molhadas e R$7,00 a menos na minha caixinha.

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