terça-feira, 2 de março de 2010

Do térreo ao décimo sexto

Na tarde de uma terça feira nublada, estávamos no hall esperando o elevador, eu, uma mulher de cinquenta anos ou mais, dois garotos e um shar pei enrrugadinho, o cachorro de um deles.Depois de alguns minutos, a porta do elevador abriu, lá dentro estava um outro menino, com uma bola de futebol. O momento foi rápido, mas o impasse foi evidente. Os garotos iam subir, inclusive o que havia acabado de descer, mas não subiriam, hesitaram durante alguns segundos e decidiram esperar no térreo e pegar outro elevador.
Na hora eu não compreendi bem o porquê, até que a porta fechou e nós começamos a subir, sem eles, ouvindo os latidos do cachorro e o bater de bola no granito. Reclamando ela explicou:
-Se a gente não estivesse aqui pra ficar de olho, eles subiam, com bola, cachorro e tudo no elevador social, como se o de serviço nem existisse.
Minha expressão foi sutil, por entender o motivo do impasse levantei as sobrancelhas, tomada pelo ar da compreensão evidentemente tardia. Eu nem tinha notado que estava entrando no elevador social e também não estava lá para ficar de olho. Ela continuou:
-Nesse prédio agora todo mundo cria tudo, e leva os bichos onde quiser, como quiser.
Acenei com a cabeça, concordando, continuei quieta, ela continuou reclamando.
-Acho que o povo só não traz cabrito aqui pra dentro.
Sorri com certa impaciência, lamentando pelas lamentações da senhora que eu já conhecia desde quase sempre, por outros passeios de elevador e uma amizade de infância com a filha dela. Não queria deixa-la falando sozinha, mas também não tive nada melhor para falar. Soltei:
-Comprei um hamster ontem.
-Um hamster? Ratinho? Ah, mas ele fica o tempo todo dentro da gaiola, nem suja o elevador
-É, ele nem pega o elevador
-Sem contar que ele é pequeno, nem ocupa espaço no apartamento. Tem um morador lá do outro bloco, um absurdo, que tem um cachorro preto, desse tamanho – chegou no andar dela, abriu a porta sem parar de falar - enorme, não sei como é que aquilo cabe no apartamento.
-Ah, é nisso que eu fico pensando.

Ela se despediu e eu fiquei pensando se era nisso mesmo que eu ficava pensando.

Um comentário:

  1. Vai comprar outro hamster? Ou prefere um cachorro preto desse tamanho.

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