quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Trecho de Tarde


As palavras vão mais rápido do que a ponta da lapiseira. Por isso não escrevo bem. Também porque  a lembrança empaca no meio do pensamento. Sei o que daria um bom texto, crônica ou capítulo mas não lembro. Então fica registrado um trecho, uma frase, uma frustração. Procrastino a hora de tomar notas. Sempre digo que as ideias voltam e que eu não vou esquece-las. Acontece que a minha memória é débil. Paradóxo, não lembro de nenhuma ideia que tenha voltado.
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Lembrei de quando eu provei pra ela que passar hidratante no rosto dava um gosto estranho na boca. Ela gostava de passar, eu que ficava com o gosto do avesso. Mesmo assim nunca hesitei em beijá-la, tinha uma sede crônica por sua pele, com covinhas, olheiras e hidratante.
A gente tava lá em casa. Eu já tinha comentado que o que ela passava deixava uma sensação estranha. Foi um cometário, quase uma reclamação; não adiantava, se ela não era desatenta era indomável. Levantou e foi passar aquilo na cara de novo.
Eu entrei no banheiro, a abracei, vi como era bonito a gente junto, nossos rostos no espelho, nossas ideias na vida. Ela disse que tinha creme sobrando, sem prestar muita atenção no que fazia e rindo, passou a mão na minha bochecha.
Ah não meu! – protestei. Ela riu mais ainda.
De costas pro espelho me ajudou a espalhar o resto do creme em mim. Carinho e diversão sempre vinham juntos. Voltando pro sofá. Eu já queria lavar o rosto. Esse negócio é gorduroso, meus poros estão sufocando! Quero água, sabão e toalha limpa! Mas até o desespero da minha pele coberta de creme ela sabia acalmar. Me beijou sem parar de sorrir, primeiro a boca, então o queixo, depois a bochecha. Fez uma careta.
– Que gosto bizarro...
– Incomoda né? – respondi
– Sim, um pouco.
Acho que depois disso ela parou de passar aquilo ou mudou de marca. A verdade é que eu não lembro com certeza. Essa é mais uma cena-fragmento que vem de lugar nenhum e não tem pra onde ir, vaga.

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