As palavras vão mais rápido do que a ponta da
lapiseira. Por isso não escrevo bem. Também porque a lembrança empaca no meio do pensamento. Sei
o que daria um bom texto, crônica ou capítulo mas não lembro. Então fica
registrado um trecho, uma frase, uma frustração. Procrastino a hora de tomar
notas. Sempre digo que as ideias voltam e que eu não vou esquece-las. Acontece que a minha
memória é débil. Paradóxo, não lembro de nenhuma ideia que tenha voltado.
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Lembrei de quando eu provei pra ela que passar
hidratante no rosto dava um gosto estranho na boca. Ela gostava de passar, eu que ficava
com o gosto do avesso. Mesmo assim nunca hesitei em beijá-la, tinha uma sede crônica por sua pele, com covinhas, olheiras e hidratante.
A gente tava lá em casa. Eu já tinha comentado
que o que ela passava deixava uma sensação estranha. Foi um cometário,
quase uma reclamação; não adiantava, se ela não era desatenta era indomável.
Levantou e foi passar aquilo na cara de novo.
Eu entrei no banheiro, a abracei,
vi como era bonito a gente junto, nossos rostos no espelho, nossas ideias na
vida. Ela disse que tinha creme sobrando, sem prestar muita atenção no que
fazia e rindo, passou a mão na minha bochecha.
–Ah não meu! – protestei. Ela riu mais ainda.
De costas pro espelho me ajudou a espalhar o resto do creme em mim. Carinho e
diversão sempre vinham juntos. Voltando pro sofá. Eu já queria lavar o rosto.
Esse negócio é gorduroso, meus poros estão sufocando! Quero água, sabão e
toalha limpa! Mas até o desespero da minha pele coberta de creme ela sabia
acalmar. Me beijou sem parar de sorrir, primeiro a boca, então o queixo, depois a
bochecha. Fez uma careta.
– Que gosto bizarro...
– Incomoda né? – respondi
–
Sim, um pouco.
Acho que depois disso ela parou de passar
aquilo ou mudou de marca. A verdade é que eu não lembro com certeza. Essa é mais uma
cena-fragmento que vem de lugar nenhum e não tem pra onde ir, vaga.
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