Gosta das
paredes brancas do novo apartamento. O melhor lugar para armazenar a recente
fase da sua vida. Mudou porque era hora de mudar. Mudou porque não existe hora
de não mudar. Toda hora trás uma mudança inevitável, mesmo que sutil, mesmo que
negada. Chega um pensamento que não se sabe de onde vem e pronto, tudo novo. Estava
prestes a se casar, se formar e ser promovida. Abortou isso tudo terminando o namoro, largando a faculdade e
pedindo demissão. As paredes do imóvel pareciam tão intactas quanto sua vida mais
uma vez zerada, em branco. Se bem que olhando direito dava pra ver umas marcas
ali. Dá pra ver que já teve um prego bem em cima, que colaram algo com durex
mais embaixo, que algum móvel foi arrastado e esbarrou na parede, que caiu
vinho tinto perto do roda pé. Ela não sabia quem tinha morado ali antes, queria
saber. Também não sabia quem moraria por lá agora, isso ela não queria saber,
queria apenas morar. Separou as caixas ainda lacradas. Ia organizar tudo, ia
tomar um banho, ia fazer um café. Levantou e foi explorar o bairro. Assim como
a casa nos protege da rua, a rua também nos protege de casa. Solidão, responsabilidades
e pensamentos foram dissipados quando se sentou no balcão da padaria e pediu um
espresso grande. O funcionário sorriu limpando as mãos no avental. É pra já,
dona!
Nenhum comentário:
Postar um comentário